SOBRE PERSONAGENS "ODIADOS"


Bom, quero dizer inicialmente que esse post não é pra defender nenhuma personagem específica de nenhum anime ou coisa do tipo. É apenas pra propôr um questionamento e uma análise mais profunda acerca dos motivos que levam tais personagens a serem construídos de tal forma, agindo de tal forma e etc. Eu fiz isso não só como escritora, mas também como amante de histórias em geral, sejam animadas ou não. Bom, vamos lá...

Como ideia introdutória, eu quero dizer que isso saiu de uma dicussão minha com as minhas amigas de grupo de Facebook. Um fandom pra um tipo específico de animação, no caso "Yuri", que se trata do relacionamento amoroso entre pessoas do sexo feminino. Voltando a situação, neste grupo que eu citei, houve uma discussão geral a respeito de uma personagem de uma história específica onde a mesma era amada por muitos e odiada por muitos, dividamente. E agora vou lhes apresentar os motivos pelo qual essa personagem, que acabou ficando famosa por esta dualidade de efeitos que causa nas pessoas variadas, afeta tanto os que lêem e acompanham essa história, seja de maneira positiva ou negativa.

O que acontece é que tal personagem em uma história unicamente romântica e dramática, age de maneira dual e muita das vezes de maneira incompreensível pela pessoa amada a ela ou amada por ela (que é, claro, a outra personagem da mesma história). Ou seja, às vezes, ela é amável, preocupada, sensível e até um tanto sensual, no entanto, em outras situações, ela se torna agressiva, arredia, fechada, arrogante ou mesmo grossa. Escondendo assim seus sentimentos dentro de sua casca e sendo difícil de ser compreendida ou simplesmente imprevisível. E aí é que está, essa dualidade a torna um alvo fácil da atenção dos outros, seja de maneira positiva ou negativa, como já foi dito aqui. Mas é esse o sentido da personagem, ou seja, sua personalidade contrastante é para ser assim, é para causar esse alvoroço. Talvez, poderíamos até pensar que se tal personagem não tivesse essas atitudes, a história não só não teria toda essa fama que ela anda tendo, como também, provavelmente seu roteiro e plot não se desenvolveriam de maneira plausível, acompanhando o romance e principalmente o drama todo que a trama exige.

Quero primeiro salientar aqui sobre nomes e classificações existentes na animação japonesa, especificamente, que traduzem um pouco disto que estou falando: Tsundere e Yandere. Os termos Tsundere e Yandere foram criados pelos autores e consumidores da animação japonesa exatamente para exemplificar personagens difíceis de se lidar de alguma forma em histórias geralmente românticas e dramáticas. "Tsundere" se refere a uma personagem que tem uma personalidade um tanto quanto dual, onde o lado "tsun" seria seu lado geralmente agressivo, respondão, resmungão, enfim, um lado que não apresenta tanto assim o seu amor pelo outro, e logo depois, temos o lado "dere" que já seria um lado meiguinho e fofo que essa personagem irritadiça possui bem lá no fundo pelo personagem que ama. O Yandere seria algo mais como uma personagem que ama o outro, porém, tem um lado obsessivo, possessivo, doentio e até mesmo psicopata, referindo-se ainda, é claro, aos sentimentos pelo outro personagem a quem se relaciona. E consideramos então, através desse fator que esse tipo de personalidade não só contrasta aos relacionamentos comuns em histórias e animações japonesas, como também dá até uma certa "apimentada" nos mesmos.

Seria um tanto chato ter dois personagens com personalidades felizes e cheias de aceitação em uma história romântica? Talvez sim, talvez não. Provavelmente depende do rumo que a plot iria tomar, independente da personalidade dos personagens existentes nela. Mas há de se considerar que de nada adianta uma plot completamente bem construída e trabalhada se seus personagens não forem da mesma forma, bem construídos e trabalhados - não que todo personagem Tsundere ou Yandere seja automaticamente bem trabalhado, não me entenda mal. O que acontece é, de qualquer forma, se em um roteiro de drama não rolar nada que torne a história clímax de alguma forma, de preferência para os olhos de quem os assiste ou lê, automaticamente, ele perde a nomenclatura de drama. Ele se torna não-dramático, anti-clímax, óbvio.

O que eu quero salientar é... Você pode sim gostar ou odiar determinado personagem por concordar ou discordar de sua personalidade, mas mesmo assim, você tem de considerar os pontos positivos e negativos de cada personagem como um dos fatores para trazer à tona a dramaticidade e a emoção da história em si. Enxergá-los com um potencial crítico, porém, sem desvirtuar os valores reais de cada parte que compõe uma história, como exatamente um escritor o faria.

Claro que, é preciso no entanto que tal personagem que tenha tal personalidade tão complicada tenha um pano de fundo bom o suficiente para explicar seus problemas. Entendamos isso de maneira até humana ao pensarmos que "cada pessoa enfrenta seus problemas e os recebe de maneira diferente". Aquela frase clichê clássica que diz "tal dor pode doer menos no outro e mais em você, cada pessoa recebe a dor de maneira diferente". Então, se salientarmos isso, chegamos ao fator que era necessário pra compreender a cabeça de um personagem mais complexo e provavelmente cheio de defeitos. E devo salientar também, que personagens que são construídos com pontos positivos e negativos, não só os pontos idealistas, se tornam assim mais humanos do que aqueles que possuem só um lado ou outro, se tornando consequentemente apenas heróis ou apenas vilões. Lidamos então com uma suposta personagem (voltando a ideia inicial do post) praticamente construída pra ser a anti-heroína da história. Ou seja, ela carrega em suas costas a responsabilidade quase que inteira de dar o toque de drama necessário para construir a plot, seja com seu passado ou com a consequência de suas atitudes presentes.

Em suma, vemos aqui que tal personagem pode ser sim considerada por qualquer pessoa que seja uma personagem ruim. Dando uma opinião estritamente pessoal, eu também não gosto dela como personagem. Mas tenho que considerar o fator de que, ela é sim muito importante pra história, e provavelmente, sem ela, a história não existiria e não teria todos seus clímax e nem seu ar de dramatismo. Logo, não existiria plot alguma. Logo, não existiria história alguma. Portanto, mesmo assim, a valorizo como uma personagem que não está lá apenas pra ser perfeita, mas sim, pra trabalhar de maneira positiva perante a história através dos olhos de seu criador/escritor.
Assim como várias outras que existem por aí...

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