Crise.

"E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto esterco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora. Eu certamente nunca conseuigira ser feliz, me casar, nunca teria filhos. Inferno, eu nem mesmo conseguia um emprego como lavador de prato.

Talvez eu pudesse me tornar um ladrão de banco. Alguma coisa bem fodida. Alguma coisa flamejante, fogosa. Só se vive uma vez. Por que ser um limpador de vidraças?

Acendi um cigarro e segui descendo a lareira. Será que eu era a única pessoa que perdia tempo pensando nesse futuro sem perspectivas?"

...

"Eu sabia que era não inteiramente são. Também sabia, uma percepção que eu tinha desde a infância, que havia algo de estranho em mim. Era como se meu destino fosse ser um assassino, um ladrão de banco, um santo, um estuprador, um monge, um ermitão. Precisava de um lugar isolado para me esconder. Os cortiços eram lugares nojentos. A vida das pessoas sãs, dos homens comuns, era uma estupidez pior do que a morte. Parecia não haver alternativa possível. A educação também parecia uma armadilha. A pouca educação que eu tinha me eprmitido havia me tornado ainda mais desconfiado. O que eram médicos, advogados, cientistas? Apenas homens que tinham permitido que sua liberdade de pensamento e a capacidade de agir como indivíduos lhes fosse retirada. Voltei para meu barracão e enchi a cara..."

(Charles Bukowski - Misto-quente)

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Lazy Queen & Miss Unsafe
Joana D'Arc

Existe uma coisa chamada pensamento
Que me atormenta a cada momento
Eu preciso de uma pré-pensada razão
Exatamente oposta a sua ilusão

Desonestidade, injustiça
Respostas obsoletas pra uma vida idealizada
Desonestidade, injustiça
É o que buscam todos eles, fracos de coração

A justiça os espera
Vivendo a vida de portas abertas
Pra algumas respostas sinceras
Mas nem sempre misericordiosas

Preciso de um atalho
Pra não cair no buraco
Quero lutar, e sobreviver
Vivendo uma sobrevida sem saber
Me espere em sua parede
Indecisão cada dia aprimora
Os sentimentos brigando em seu coração
Pra saber qual deles lá mora

Desonestidade, injustiça
Respostas obsoletas pra uma vida idealizada
Desonestidade, injustiça
É o que buscam todos eles, fracos de coração

Me diga mais uma vez para o quê todos nós funcionamos?
Me faça entender de uma vez,
porque é que nós nunca entendemos?
Estou procurando uma resposta
pra todas as minhas perguntas
Mas não existem perguntas
Pra todas as minhas respostas...

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