Grito Mudo Para Uma Orelha Surda [4]

*Vírus*

Eu não quero sentir a sua dor
Sua vida sem o menor amor
Minha alma pensa e sofre
O meu corpo cansado morre
Fantasmas em meu espelho
Seu desejo, sua vida, seu medo
Não deseje ser minha rainha
Boneca drogada vive sozinha

Vírus
Nada
Egoísmo
Dor

Nós somos todos cegos, vazios, perdidos e sem cor
Nós somos todos cegos, vazios, perdidos e sem cor

- - -

*Virtuosidade da Penicilina*

eu pensei em jogar os cacos fora.
cansei de guardar lembranças.
dos escravos no nosso quintal...
os escravos no nosso quintal...

a boca com gosto de pólvora.
os meus dentes ainda de lata.
os escravos no nosso quintal...
os escravos no nosso quintal...

mamãe me ensinou a ler
mamãe me ensinou a ler
e eu escrevi uma carta pra você
escrevi uma carta pra você
se chama atestado de óbito

- - -

*Vidro Dupla-Face*

me estapeie de um lado
que eu oferecerei a outra face
a outra face pra você
porque você é meu mal, você é meu bem
eu já não sei quem é você
e eu já não sei nem quem sou eu
e eu nem sei se quero saber
nem mesmo sei se é preciso

eu só sei, que assim quero continuar sendo
e que é assim sempre que quero ser
então seja você, e seja sim,
sempre comigo, sempre você
sempre você seja comigo

enquanto meu cérebro tenta tomar nota
tomar notas de coisas que não precisam ser tomadas
de coisas que já foram pegas emprestadas
ou simplesmente arrancadas por alguma necessidade
necessidade sem alguma razão, motivação ou mesmo necessidade
mas que mesmo assim, revela toda nossa cumplicidade
eu vou te dar uma razão, motivação pra nossa necessidade
a razão é estar
a motivação é ser
e a necessidade é sentir

me estapeie de um lado
que eu oferecerei a você as minhas mil faces
tente conviver com uma delas
tente conviver com todas
elas querem conviver com você
elas gritam por você, em todos os lados, em todas as faces
os rostos nos espelhos, que estavam aprisionados
quebre o espelho, liberte todos os rostos, todas as faces
e me mostre a verdade, no meio de todas as verdades falaciosas

porque eu não sei que é você,
você não sabe quem sou eu
e eu nem sei se quero saber
e nem acho que seja preciso

- - -

*Vício*

você é o meu vício
você é o meu vício
é de você que eu preciso
o tempo todo
o tempo inteiro
o dia todo
o dia inteiro
eu não consigo
por mais que eu tente
eu não consigo
é como o álcool
e a nicotina
é como a agulha
e adrenalina
é como o sexo
é impossível
me alimente
eu necessito
eu sei de sua arrogância
e eu deveria odiá-la
seu orgulho bobo
sua confiança
seu jeito de pensar que
sempre, sempre eu gosto de você
e sempre vou corresponder
e... o pior é que
você está certo

(não preciso de bebidas viciantes
o meu vício agora é você)

- - -

*Vestindo-se de Prata*

não há perdão pra falência
não há perdão ou incumbência
o Jesus de cera, o de gesso e o de ouro.
os átomos que se partem e causam mal-agouro.
amanheci em teus lábios
alimentei-me de teu gosto
sou todo seu escárnio
ainda todo seu desgosto

sou uma poesia fajuta
sou uma poesia fajuta
uma cela de amor de vidro
sou uma poesia fajuta

não há solidão em sua morte
só há desonra e falta de sorte
escutei meus demônios saírem do inferno
o pecado que havia não era externo, era interno.
amanheci em teus braços
alimentei-me de seu amor
sou todos os seus erros
ainda toda a sua dor

sou uma poesia fajuta
sou uma poesia fajuta
um peso de papel de plástico
sou uma poesia fajuta

"Me destrua, Amor. Eu só preciso sentir dor."

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