Quatro paredes, sem portas e sem janelas [5]

*Supravida*

Você só saberia se sentisse na pele
Se entrasse em mim e absorvesse
Todos os meus medos e todas as minhas crenças
Todas estas coisas tão pessoais, todas as experiências
E todas as coisas mais
Você só saberia se fosse eu
E você só saberia se estivesse em mim
Olhar pelos meus olhos e então sentir

E com tristeza, a música igual a todas as outras
Um nome dentre tantos milhares
Nada importante, só mais um guardado em uma estante
A idéia é grande, mas não funciona no papel
Só nos meus olhos você compreenderia

Dois mundos tão distintos
De um lado, o mundo grande, brilhante e bonito
Contrastando com a paisagem de graça para todos
E do outro o mundo pobre e miserável
Mas familiar e confortável
Como a chegada em casa depois
De um longo passeio ao mundo pequeno
Pelo vidro do carro

Você devia ver a riqueza que possui
Mas a ganância e a ambição te cega
Ou então, você é tolo e não viu o ouro que possui
E nunca estaremos satisfeitos
Porque nunca é o bastante, ou o suficiente
Mas o que eu quero é só uma coisa
Algo que não pode ser comprado com seu dinheiro:
Amor

- - -

*Superficialidade*

Nós seres humanos somos superficiais. Damos mais valor às coisas materiais.
Esquecemos dos valores sentimentais. Quando um sentimento não vale mais?
Algo que foi caro pra você poderia ter
Menos valor do que algo que não custa nada
Mas foi dado por alguém que você gosta.
Foi dado, e você se importa.
Quebrem seus CDs, queimem seu dinheiro.
Nada disso nos serve, em um mundo tão fadado a alimentar os cegos.
E tudo é plástico e metal. E somos pedaços de carne esperando pra apodrecer.
E quando ela está à beira da morte, você pensa:
“Do que serviram aqueles pedaços de papel?”.
Tudo são marcas, tudo são rótulos. E o meu valor sentimental?
Eu tenho algum valor pra você que não seja uma língua em sua boca a mais?

- - -

*Summertime*

Fique mais um pouco dentro de mim
Aqui onde é tudo tão escuro
Nossos olhos se fecham e não há nenhuma surpresa
Eu me sinto perdida
Levemente ferida
O que não é novidade
Porque eu sempre me perdi
E quem pode me salvar deu um nó
Tão forte que não pude mais soltar
E me sinto presa por me prender

E o que me garante estar certa?
E isso não é só medo.

E você atravessa as paredes, e você me escala por completo, e você vê o vento e você segue de leve à passos lentos. E eu me sinto firme e me sinto insensata, e eu carrego um pouco de ódio, e eu me carrego em suas costas... Assim, como se eu nunca tivesse feito isso.

"Por que eu só arranjo o que fazer quando eu não quero fazer nada?"
Bem... Às vezes deve-se fazer coisas que não consegue pra conseguir coisas que se precisa!
E às vezes a distância aproxima às pessoas (E eu quero pensar que sim)

- - -

*Sujeira*

O mundo é bestial
O mundo é uma bola de sujeira
Quem enfeitou isso?
Quem pôs o Shakespeare nos livros?
Não há nada de tão bonito nisso
Nada de bonito
Corrupção, assassinatos, morte, roubos, estupros
Dejetos, tragédia, choro, guerra e crueldade
Não há nada de tão bonito nisso
Não há nada de bonito no mundo
Vocês não entendem
Vocês não querem entender
Vivemos nossas vidas fugindo
Apenas pra não podermos ver
Se vermos, choraremos
E não queremos chorar
Nossos pulsos atados já estão pesados demais
Pra haver mais merda pra suportar
O mundo fede, como os hospedeiros do mundo
Somos pulgas e carrapatos, e sugamos o mundo do mundo
As coisas nunca são perfeitas
E elas nunca serão
Quem pôs a perfeição nos contos de fadas?
Eles nunca acontecerão

- - -

*Sublimação*

por todas as pessoas que eu nunca consegui
por todos os amigos que perdi
por todas as dores que eu senti
por toda a solidão
por todo o vazio
por todo o silêncio
por todo o tédio
por todas as pessoas que me deixaram
por todas elas que me traíram
por toda a raiva seguida de tristeza
por toda a tristeza seguida de vazio
por toda a falta de alguém
por todo segredo guardado à chaves
por toda carência
por todos os pesadelos
por todas as broncas
e todos os erros
por tudo o que envolve a mim
todo, tudo, todo pessimismo
toda maldita baixa estima
toda falta de confiança própria
por tudo, tudo isso
por toda esnobação alheia
por tudo, tudo isso
tudo, e tudo o mais que virá
(pode vir)

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