Protesto dia 20 - EU FUI


Ontem, dia 20 de junho, eu participei do protesto. E vou contar a vocês como foi, ao menos, pelos meus olhos.

Inicialmente, no dia, eu não tive aula na faculdade, daí fui levar minha namorada, Hannah, para o trabalho dela. Acabei ficando um pouco mais e ajudando ela e minha irmã a levar materiais pra loja (onde ela trabalha). Ok, daí um amigo meu, Allan, me ligou pra que fôssemos juntos ao protesto. Confirmei com ele, minha irmã me deixou na estação de trem de Madureira. Então, vimos já no trem um monte de gente que claramente ia também ao protesto, apesar de estarmos "atrasados" pelo horário que marcaram inicialmente. Haviam punks, pessoas com dread, pessoas com a cara pintada... Daí, saltamos na central, todos, e nos reunimos a manifestação que já estava rolando. Estávamos na Presidente Vargas e daí fomos seguindo. Meu amigo e eu tiramos umas fotos e gravamos uns vídeos (depois eu posto aqui).

A marcha seguiu numa boa, com a gente gritando dizeres bacanas, os que não eram bacanas, a gente simplesmente ignorava. Well, daí em um determinado momento, surgiram bandeiras de militantes de esquerda e seus partidos esquerdistas. Cara, entenda uma coisa, mesmo querendo, assim como o povo lá, uma manifestação apartidária, achei uma sacanagem os caras tomarem porrada e terem suas bandeiras quebradas. Isso porque, militantes de esquerda já estavam bem antes lutando por causas, muito antes da gente chegar, pra gente simplesmente descer o cacete nos caras e proibi-los de levantar bandeiras. Não é uma democracia? Então, deveriam poder levantar a bandeira que quiserem (contanto que não seja de ódio e preconceito, é claro). Daí depois que eles brigaram entre si, outra coisa babaca, porque enfraquece o movimento, a gente seguiu.

Fomos andando até a Prefeitura. Mas antes, eu e Allan achamos um cartaz gigantesco no chão e EM BRANCO. Ficamos loucos procurando por gente que tivesse uma caneta pra que pudéssemos escrever algo legal. Encontramos um grupo super simpático que nos cedeu canetinhas pretas e verdes. Daí escrevemos bem grande no cartaz "GENTILEZA GERA GENTILEZA, PROTESTO GERA MUDANÇA!" e seguimos assim. Quando chegamos a Prefeitura, lá já estavam os policiais, todos armados, com seus capacetes, alguns com cachorros e alguns à cavalo. Ficamos impressionados. Realmente uma ditadura. É só começar um protesto e os caras surgem, armados até os dentes, como se estivessem combatendo bandidos super armados também. Mas o máximo que tínhamos, até então, eram fogos e vinagre. Eu disse... ATÉ ENTÃO!

Ficamos lá parados, na frente deles, gritando nossos dizeres. Alguns eram ofensivos como "Puta que pariu! A PM é a vergonha do Brasil!", mas nem todo mundo seguiu com isso. Também cantaram "Ei, fardado! Vem pra nosso lado!", falando que eles também eram oprimidos e do povo, e por isso, deviam estar conosco, o que acho super válido. Imagina se a polícia se JUNTA aos manifestantes, ao invés de, a mando dos engravatados, ficarem contra a gente?

Ok, eu estava perto da Prefeitura, mas não tão perto assim, tinha gente na minha frente. E não dava pra ver direito (eu não sou muito alta, ok). Daí, do nada, começou uma briguinha, uma discussão, não sei bem o que era, não dava pra ver, mas não era em massa. Daí, os policiais começaram o gás lacrimogênio. Tacaram bombas na gente e a gente começou a sair correndo. O povo começou a colocar as máscaras, usar camisas no rosto com vinagre e etc. Ardiam nossos olhos, bocas, gargantas e nariz, enquanto gritávamos "Sem correr!" para o tumulto não acabar em tragédia ou coisa do tipo. Eu e Allan, que como um bom nerd, havia levado uma toalha, encharcamos ela de vinagre e começamos a aspirar. De início, o vinagre faz tudo arder mais, mas depois dá um puta alívio mesmo. A gente dispersou de lá, mas a polícia, por algum motivo, ficou seguindo a gente, logo depois, tacando mais e mais bombas. O pessoal se revoltou e começou a tacar molotov ou a depredar as coisas (latões de lixo, por exemplo, que foram tacados pro alto). Enquanto isso, eu e Allan tentávamos uma saída pela esquerda, o lado menos populoso da coisa (e mesmo menos populoso, a gente era empurrado e esmagado pela multidão gigantesca).

Allan parou pra fumar um cigarro (sim, ele é louco, depois de tanta fumaça de lacrimogênio, ele foi fumar), quando ficamos em um lugar mais arejado. E enquanto isso, víamos ainda a trilha pra perto da Prefeitura com fogo e fumaça sem parar. Hannah tentou me ligar um pouco antes (quando a gente tava fugindo de lá), mas eu não consegui atender, no meio da confusão. Saíamos correndo e gritávamos sem parar "Sem violência!", mas a polícia continuava a atacar.

Voltamos a andar, o povo parecia querer ir pra ALERJ, mas eu e Allan resolvemos ir pra casa, porque Hannah estava sem a chave e ia ficar trancada do lado de fora de nossa casa. Então, no caminho, um rapaz estava na nossa frente com uma garrafa de água na mochila, geladinha e cheia. Daí, eu morrendo de sede pedi um gole e ele foi super gente boa e disse que eu podia levar a garrafa toda, porque ele tinha outra. Acho legal isso, as pessoas ficam realmente mais gentis quando estão combatendo uma causa em comum, acho. E não, não tou falando do povo jogando molotov ou da polícia com suas bombas de gás, estou falando do pessoal que tava lá numa boa, fugindo disso tudo.

Continuamos andando, até que em um momento, chegamos a uma banda de músicos que estavam tocando em meio a manifestação. Foi legal, e inclusive, eles pediram pra gente sentar e ficaram sacudindo uma enorme bandeira branca. Depois disso, nos levantamos e seguimos viagem. Eu e Allan estávamos apressados pra ir embora, já que Hannah precisava da chave pra entrar em casa.

Quando chegamos na Central foi que rolou a última confusão (pelo menos pra nós). Havia muita, muita gente e uma tremenda fila pra comprar passagem. Eu e Allan tínhamos Rio Card, então a gente foi direto nas catracas. Passamos e quando estávamos indo para a plataforma Belford Roxo, a gente viu a galera entrar correndo desesperada. Disseram que a PM (ou o batalhão de choque, não entendi direito) tinha cercado a Central e estava jogando spray de pimenta. Daí o povo todo começou a correr desesperado pra dentro das plataformas. A fila enorme pra comprar a passagem tinha se desfeito e virou uma massa de MUITA gente vindo correndo. Um monte de gente entrou pela passagem para deficientes e mais um montão de gente PULOU a catraca, no desespero. E então, entramos no vagão, que logo depois ficou cheio de gente.

Allan ficou meio preocupado dos policiais entrarem lá e tentarem nos tirar a força, inclusive nós, que pagamos a passagem, mas não aconteceu. Pudemos ir embora sem mais problemas. Allan se despediu de mim na estação do Mercadão de Madureira, e eu fiquei em Rocha Miranda mesmo. Chegando a praça, encontrei amigos e pude contar o que aconteceu, tomando uma boa cerveja. Mas daí vi que o repórter na tv estava passando imagens do protesto e pude constatar: Eles só mostravam os atos de vandalismo (se é que não foi simplesmente o troco que o povo deu nos policiais e suas bombas de gás) e mais nada... Fiquei meio chateada com isso, mas fazer o que? Bando de sensacionalistas!

Bom, é isso... O que eu posso concluir no final? Precisamos de uma motivação específica, precisamos lutar por um bem em comum de maneira não dispersa, pra podermos não perder o foco. Sugiro educação ou saúde, que assim como o transporte, são coisas que todo mundo necessita, independente de ideologia política, condição social ou sexualidade. Como todo mundo lutava por uma coisa diferente, ficou meio bagunçado e confuso isso. Os ideais. Então, pra mim, essa é a ideia. Colocar um monte de gente na rua, ótimo. E eu também não sou totalmente contra (como já falei anteriormente) a TODO TIPO de atos de vandalismo, só alguns em específico. Mas o problema é que precisamos nos organizar, não digo, para termos líder, porque isso é bobagem. Mas sim, pra termos uma razão em específico pra estar lutando, que aí sim, vamos exigir que a situação seja resolvida e vamos poder colher os frutos do resultado.

 That's it.

Nenhum comentário: